sábado, 17 de maio de 2008

ESTRATÉGIA PROFILÁTICA

VATICANO ADMITE QUE PODE HAVER VIDA FORA DA TERRA

Diretor de observatório da Santa Sé diz que não se pode limitar ação criadora de Deus


O diretor do observatório astronômico do Vaticano, padre José Gabriel Funes, afirmou que Deus pode ter criado seres inteligentes em outros planetas do mesmo jeito como criou o universo e os homens.

"Como existem diversas criaturas na Terra, poderiam existir também outros seres inteligentes, criados por Deus", disse o diretor do observatório conhecido como Specola Vaticana.

"Isso não contradiz nossa fé porque não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus", acrescentou Funes, em entrevista ao jornal L'Osservatore Romano, órgão oficial de imprensa da Santa Sé.

Na entrevista ao jornal do papa, o padre Funes, jesuíta argentino de 45 anos de idade, cita São Francisco ao dizer que possíveis habitantes de outros planetas devem ser considerados como nossos irmãos.

"Para citar São Francisco, se consideramos as criaturas terrestres como 'irmão' e 'irmã', por que não poderemos falar também de um 'irmão extraterrestre'?", pergunta o padre. "Ele também faria parte da criação."

Perspectiva
Na opinião do astrônomo do Vaticano, podem haver seres semelhantes a nós ou até mais evoluídos em outros planetas, ainda que não haja provas da existência deles.

"É possível que existam. O universo é formado por 100 bilhões de galáxias, cada uma composta de 100 bilhões de estrelas, e muitas delas ou quase todas poderiam ter planetas", afirmou Funes.

"Como podemos excluir que a vida tenha se desenvolvido também em outro lugar?", acrescentou. "Há um ramo da astronomia, a astrobiologia, que estuda justamente este aspecto e fez muitos progressos nos últimos anos."

Segundo o cientista, estudar o universo não afasta, mas aproxima de Deus porque abre o coração e a mente e ajuda a colocar a vida das pessoas na "perspectiva certa".

Padre Funes diz ainda que teorias como a do Big Bang e a do evolucionismo de Darwin, que explicam o nascimento do universo e da vida na Terra sem fazer relação com a existência de Deus, não se chocam com a visão da Igreja.

"Como astrônomo, eu continuo a acreditar que Deus seja o criador do universo e que nós não somos o produto do acaso, mas filhos de um pai bom", afirma.

"Observando as estrelas, emerge claramente um processo evolutivo, e este é um dado cientifico, mas não vejo nisso uma contradição com a fé em Deus."

Ateísmo
Na visão do religioso, estudar astronomia não leva necessariamente ao ateísmo.
"É uma lenda achar que a astronomia favoreça uma visão atéia do mundo", disse o padre. "Nosso trabalho demonstra que é possível fazer ciência seriamente e acreditar em Deus. A Igreja deixou sua marca na história da astronomia."

Diretor da Specola Vaticana desde 2006, padre Funes lembrou na entrevista que astrônomos do Vaticano fizeram importantes descobertas como o "raio verde", o rebaixamento de Plutão e trabalhos em parceria com a Nasa, por meio do centro astronômico do Vaticano em Tucson, nos Estados Unidos.

A sede do observatório do Vaticano se localiza em Castelgandolfo, cidade próxima de Roma, onde fica situado o palácio de verão do papa, desde 1935.

O interesse dos pontífices pela astronomia surgiu com o papa Gregório 13, que promoveu a reforma do calendário em 1582, dividindo o ano em 365 dias e 12 meses e introduzindo os anos bissextos.

Comentário:

Na minha ótica, nada disso foi dito sem a prévia aquiescência do papa. A estratégia vaticana não muda e sempre foi oportunista – enquanto o conhecimento científico restringiu-se à posse de cópias únicas de manuscritos antigos, guardados a sete chaves e ao alcance exclusivo de seus porta-vozes industriados sob o tacão de ameaças e idéias fixas, os papas e seus acólitos mantiveram em rédea curta a divulgação do saber e ditaram as regras ao mundo ocidental, mantendo a humanidade leiga na mais absoluta ignorância.

Com isso, sua palavra era lei. E graças a esse obscurantismo dirigido e tendencioso, a “verdade católica” defendeu e propagou o geocentrismo aristotélico e outros erros conceituais convenientes e favoráveis à defesa de postulados que o tempo e as evidências se encarregaram de derrubar. Esse estado de coisas prevaleceu até meados do século XV, quando Johannes Gutenberg inventou a prensa móvel, permitindo, com isso, a multiplicação do livro impresso e sua aquisição por parte dos estudiosos não atrelados. Mesmo assim, muitos impressos foram proibidos pela igreja, que nunca confessou seu medo de perder o controle absoluto sobre o pensamento leigo.

Foi o tempo do famigerado Index Librorum Prohibitorum, que ameaçava com a excomunhão sumária quem lesse e, sobretudo, ensinasse, defendesse ou propagasse idéias contrárias aos interesses imediatos do poder eclesiástico. Esse clima de ditadura e guarda plenipotenciária do saber queimou Giordano Bruno na fogueira em 1600 e quase fez o mesmo com Galileu, três décadas mais tarde. A verdade acadêmica, entretanto, impôs-se pela força da evidência científica, e hoje, por mais que a cúpula romana desejasse, não há mais ambiente e, muito menos, condições para que sua visão tubular e mística prevaleça em termos de credibilidade.

O que lhe resta fazer, então? Adaptar-se, é claro. Como já fez ao reinterpretar Charles Darwin e o conceito do Big-Bang, além de pedir perdão à memória de Galileu “em nome dos católicos”, como se esses tivessem algum grau de culpa nesse inamovível erro histórico. E mais: tratar de fazê-lo astuciosamente, de forma cautelosa e pragmática, a fim de dar a impressão, aos olhos da crítica mundial, de que acompanha e aplaude, atenta e prazerosamente, os gigantescos passos da ciência rumo à progressiva e inevitável derrubada dos falsos postulados que compõem a essência de uma doutrina fundada em dogmas e revelações, tais como o conceito, até então defendido com o peso da autoridade irrefutável das ‘sagradas escrituras’, da criação divina e da exclusividade da Terra como berço da vida e centro do Universo.

Eles já sabem que, mais cedo ou mais tarde, explodirá alguma constatação esmagadora, comprovada pela astrofísica, que derrubará, de maneira fragorosa, alguns dos seus pilares mais fincados e fundamentais. E, diante dessa perspectiva mais que provável, já estão adotando, como medida cautelar e profilática, uma política de falsa conformidade com tão indesejada perspectiva. Tal é a postura hipócrita desses porta-vozes autorizados de uma instituição anacrônica, cuja visão sempre esteve sujeita aos preceitos da fé dogmática que impõe Deus como autor da Natureza.

Portanto, não me surpreendem os recentes depoimentos de “padres astrônomos”. Eles querem preparar o terreno para que o Vaticano possa conviver pacificamente com as descobertas que estão por vir e que, de outra forma, comprometeriam irremediavelmente sua fantástica capacidade de adaptar-se ao inevitável. Daí as habilidosas declarações do responsável pelo Observatório do Vaticano com relação à possível descoberta de vida extraterrestre inteligente.

Mas não vejo saída viável para o impasse teológico que tal descoberta criaria. Teriam eles de dispor de argumentos convincentes para explicar a exclusiva vinda de Cristo à Terra e, a reboque, toda a história criada nas escrituras em torno do seu sacrifício como suposto filho unigênito de Deus. Afinal, comprovada a existência de vida extraterrestre inteligente, o bom senso e a lógica nos obrigariam a concluir que um fato semelhante – a vinda de Cristo - deveria ter ocorrido em qualquer astro onde houvesse tais seres supostamente criados, todos, pelo mesmo pai.

Ou Cristo só teria vindo salvar os terráqueos e ignorado as demais vítimas do famigerado pecado-original, forçosamente espalhadas pelo Universo? Caso contrário, esse terrível anátema que obriga toda a cristandade ao batismo só terá sido imposto aqui. Se não, isso constituiria, da parte de Deus, um ato de discriminação, incompatível com o amplo e obrigatório significado de uma justiça que se quer divina, perfeita e universal.

Mario Gentil Costa

Um comentário:

Orlando Tambosi disse...

Salve, gentil Mário,

bem-vindo ao blogspot. Custei a tirar o Aluízio do UOL maledetto, mas, enfim, ele saiu e levou os amigos também.

É bem melhor lidar por aqui. E sem ter o pé no Grotão uolesco.

Abraço


P.S.: tomo a liberdade de lhe indicar o livro "Os cachorros de palha", do John Gray, que dei de presente ao Aluízio. Você o apreciará também, se é que já não o conhece...