sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009



OS MELHORES ESCRITORES

Dias atrás, numa rodinha, eu criticava a baixa qualidade do texto de certos escritores brasileiros – cujos nomes já citei outrora e prefiro não repetir aqui para evitar outros mal-entendidos – quando fui aparteado por um amigo que escreve muito bem e que, para minha surpresa, saiu com uma pergunta simples, mas aparentemente arrasadora:
- Eles vendem?

Não respondi de imediato, pois todos sabem que sim, sobretudo um deles, mas contrargumentei com a indagação genérica:
- Quer dizer que, no teu modo de ver, bom é tudo aquilo que vende bem?
- Eu me referia a escritores... – foi sua saída pela tangente.

Mas era tarde; a querela estava armada. O fato é que a maioria acostumou-se a consumir o que seja badalado na mídia. E isso vale pra tudo. “Bom é o que vende mais”, mesmo que a experiência mostre que o produto é, no máximo, igual aos concorrentes, quando não é pior. Dá-se que o consumidor comum, que é a massa, não tem sem senso crítico. Compra qualquer coisa, até mesmo “aquilo” em pacote..., desde que “bem-embalado”.

Conta-se que, anos atrás, a cúpula da Coca-Cola americana, assustada com o crescimento exponencial da verba destinada à publicidade, e convencida da inabalável e sistemática preferência do povo por sua marca sempre vencedora, decidiu reduzi-la à metade. A tese defendida era a de que sua imagem estava indelevelmente impregnada no subconsciente da maioria – o chamado “efeito subliminar” – e que as vendas não cairiam. Conta-se que o resultado da experiência foi desastroso, e que, em pouco tempo, a Pepsi-Cola, sua maior concorrente, estava vendendo mais. Conclusão: você e mais uns poucos, se fosse o caso, continuariam a beber Coca-Cola – que eu não bebo porque não gosto – mas a massa, não; ela vai na onda, como um imenso rebanho de ovelhas estúpidas.
É ela que enche as igrejas dizimistas e, mesmo à custa de imenso sacrifício, enche as burras do seu ávido pastor... Ela é a mesma que dá o ibope à novela das oito, a ponto de adiar compromissos mais proveitosos para não perder um só capítulo e, nos intermináveis intervalos, absorve passivamente os efeitos emburrecedores da propaganda maciça.

Mas o objetivo deste artigo era discutir escritores, e eu, sem querer, derivei por colaterais. Poderia, perfeitamente, ter contraposto que o Brasil tem grandes escritores desconhecidos. Aqui mesmo em Floripa, eu conheço um que é dono de um texto soberbo, tão primoroso que, na melhor das hipóteses, pouquíssimos dos atuais usuários dos fardões da ABL seriam capazes de igualar.
- E quem é ele? – indagaria o meu amigo.
- Não tenho autorização para citar-lhe o nome - só em off -, mas lhe asseguro que é homem de vasta cultura, fala cinco idiomas, já leu os clássicos maiores e menores, conhece boa parte do mundo e, apesar disso, vende pouquíssimo; vive, na leal companhia de seus cães, quase ignorado num tugúrio no interior da Ilha de Santa Catarina.
- E como se explica isso? – insistiria o meu amigo, assombrado.
- Não sei responder. Timidez insuperável? Modéstia excessiva? Incerteza? Exagero de autocrítica? Má sorte? Falta de apoio editorial? Só sei que isso prova a minha tese: nem todos os famosos, os que vendem ‘horrores’, os que figuram eternamente nas listas semanais da Veja, são os melhores...

Conheço um outro, também de Floripa, que, por mero impulso, desejoso de estimular nas pessoas comuns o hábito da leitura – único, se não um dos únicos veículos de aprimoramento cultural de uma sociedade – arca com as despesas de edição de seus inúmeros livros e depois, tímida e humildemente, saí com alguns volumes debaixo do braço, ávido por dá-los de presente, com dedicatória e tudo, a quem mostrar por eles a mínima curiosidade.

Escritor digno desse título, portanto, não é sempre o que vende mais; é o que escreve melhor, com mais conteúdo, criatividade, estilo e correção, e não faz da venda pura e simples sua meta de vida ou, menos ainda, tira daí a medida do seu valor...

Mario Gentil Costa
magenco@terra.com.br

7 comentários:

Ercy Soar disse...

Mário,
de completo acordo! Já que vc prefere não citar nomes, cito eu: está bem entendido por que Paulo Coelho tem tanto reconhecimento no exterior, e incluse ganha medalhas por sua obra: os seus erros de português são corrigidos na tradução.
Por que ele foi eleito pra ABL, isto é uma questão a ser respondida. Mas, no Brasil essas coisas são compreensíveis pelo simples fato de ser o Brasil.

Anônimo disse...

CARO ERCY, MAIS UMA VEZ, FICA PROVADO QUE "PRA BOM ENTENDEDOR, MEIA PALAVRA BASTA". NÃO CITEI NOMES PORQUE, DA VEZ ANTERIOR, 'INVEJA' FOI O MÍNIMO CRIME DE QUE FUI ACUSADO. MAS ENDOSSO SUA TESE DE QUE OS ERROS CRASSOS DESSE VENERADO 'MAGO' SÃO CORRIGIDOS POR SEUS TRADUTORES. ALIÁS, JÁ HAVIA DEFENDIDO ESSA IDÉIA. MAS COMO SE EXPLICA SEU SUCESSO, MESMO LÁ FORA? SERÁ QUE SUA TEMÁTICA É PSICO-TERAPÊUTICA, E O MUNDO INTEIRO ESTÁ CARENTE OU PERDEU O SENSO CRÍTICO? QUANTO À ABL, CREIO TRATAR-SE DE PODEROSO TRÁFICO DE INTERESSES QUE TERIA 'ESTÍMULOS' E RAZÕES MAIS 'ESOTÉRICAS' DO QUE OUSARIA IMAGINAR NOSSA VÃ FILOSOFIA...
GRANDE ABRAÇO DO MAGENCO

Ercy Soar disse...

Mário, ainda a respeito de Russel, postei trecho do fabuloso livro de Roth, em que aparece a menção ao ensaio dele. By the way, têm lá o link para o artigo inteiro, em portugues. Abraço

Anônimo disse...

ERCY, MUITO OBRIGADO. DAREI UM PULO LÁ; SOU VIDRADO EM QUEM PENSA POR SI - E COM LIBERDADE, SEM DAR TRELAS A CONVERSAS-FIADAS DE ORIGEM VATICANA! ABRAÇÃO. MARIO

Anônimo disse...

ERCY, ACABO DE RELER A ALUDIDA MATÉRIA DE RUSSELL. DE FATO, É UM MONUMENTO À RAZÃO. POR ISSO MESMO, NÃO RESISTI E COPIEI-A PARA UM CRENTE EMPEDERNIDO, NA ESPERANÇA DE CONVERTÊ-LO AO BOM SENSO, EMBORA JÁ PREVEJA O RESULTADO: A TEIMOSIA. ABRAÇO. MARIO

Anônimo disse...

Mário
Van Gogh, como se sabe, conseguiu vender uma única tela enquanto vivo, A Vinha Encarnada, por 400 francos. Em 1990, cem anos após sua morte, outra tela sua, Retrato do Dr. Gachet, alcançou o valor de US$ 82,5 milhões, um recorde até então.
Não se estranhe que o mesmo aconteça nas outras artes.
Abraço.
Elza Galdino

Anônimo disse...

ELZA, MAS A RECÍPROCA TAMBÉM PODE SER DOLOROSA - QUANTOS IMBECIS EMPLUMADOS ESTÃO VENDENDO PORCARIAS? DE RESTO, ENTRE OS GRANDES PINTORES, O CASO DE VAN GOCH PARECE SER, HISTORICAMETNE, UMA EXCEÇÃO E, PORTANTO, NÃO SERVE DE CONSOLO A NINGUÉM. ABRAÇO. MARIO